No dia 30 de dezembro de 2011, último dia útil daquele ano, o então governador Eduardo Campos comemorou, junto com seu secretariado, aquilo que deveria ser um marco na política ambiental do seu governo: o passivo ambiental de Suape estaria zerado. De acordo com a publicidade oficial do governo, o que havia para ser reflorestado teria sido alcançado com a restauração de 214 hectares de Mata Atlântica. Anúncios pagos foram publicados para capitalizar politicamente a “conquista”.
Onze dias depois, o passivo já não estava assim tão zerado: às 11h de 10 de janeiro de 2012, uma equipe de fiscalização da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) localizou um aterro ilegal na Área de Proteção Permanente (APP) do riacho Algodoais. A administração de Suape foi multada em R$ 3.650,32. O fato não mereceu publicidade ou atenção da imprensa local.
O episódio foi reconstituído a partir da análise dos autos de notificações disponíveis no site da própria CPRH. A análise dessas multas e advertências ajuda a contar a história recente dos crimes ambientais cometidos por Suape e pelas empresas lá instaladas.
De acordo com o banco de dados da autarquia, as multas impostas a Suape e dezenas de empresas instaladas em terras sob sua jurisdição somam R$ 9.215.768,80 desde 2009, ano inicial da relação disponibilizada ao público. Em resposta a um pedido de informação feito pela Marco Zero Conteúdo, a administração de Suape informou não ter ideia do percentual desse montante que chegou a ser pago.
Considerando apenas aquelas multas que o sistema da CPRH considera como quitadas, apenas 5,3% (ou R$ 487.365,54) foi pago pelos infratores. Esse valor inclui a pequena multa que desmente a euforia do discurso governamental.
Administração de Suape é a maior infratora
A própria administração do Complexo Portuário detém o recorde de infrações: foram 21 multas, sem contar as dezenas de advertências que não fizeram parte deste levantamento. Isso tem uma explicação: até 2014, época do boom econômico, um dos argumentos usados pelo governo estadual para atrair empresas era entregar o terreno já desmatado, pronto para receber as obras.
Essa estratégia governamental foi confirmada tanto pela ex-gerente de Meio Ambiente de Suape, Adriane Mendes Vieira Mota, que hoje coordena o curso de Engenharia Ambiental da Uninassau, quanto pelo ex-presidente e atual diretor da CPRH, Eduardo Elvino.
Elvino, que concedeu entrevista quando ocupava a presidência da Agência, explica as consequências dessa política:
– Entre 2011 e 2014 havia um clima de pressa na instalação das indústrias. Então algumas etapas do processo de licenciamento foram atropeladas. Muitas vezes Suape dava entrada no processo, mas quando os fiscais chegavam para realizar a vistoria, a vegetação já estava sendo suprimida, como se bastasse protocolar o pedido para garantir a autorização. Por isso, tantas multas naquela época.
A última multa dessa natureza imposta por um dos 152 fiscais da CPRH foi lavrada no dia 3 de junho de 2014, no valor de R$ 5.000,00 por uma intervenção não autorizada numa APP.
A maior multa, de R$ 2,5 milhões, também foi aplicada à administração do porto. Aconteceu em 2013, quando a dinamite usada por uma empreiteira para explodir rochas e arrecifes provocou a morte de golfinhos, de ao menos um espécime de mero (peixe de grande porte ameaçado de extinção) e destruição de ambientes usados para a pesca artesanal. Essa multa nunca foi paga.
Ao longo de 2018 e 2019, a frequência dos autos de infração que geraram multas caiu bastante, limitando-se a três no período. O mais recente foi em agosto de 2019, quando a Refinaria Abreu e Lima foi multada em R$ 100 mil em razão do vazamento de diesel no manguezal.